Nuno enfrenta Amorim: o luxo contra a paciência

O Nottingham Forest recebe hoje (20h) o Manchester United num duelo especial entre técnicos portugueses. Ruben Micael jogou com ambos e analisou, para o Craques, o trabalho desenvolvido por Nuno e Ruben Amorim nesta edição da Premier League.

Se, no início da época, alguém dissesse aos adeptos do Nottingham Forest que, à 30ª jornada do campeonato, a equipa do Forest iria receber o Manchester United confortavelmente instalada no 3º lugar, provavelmente os adeptos chamar-lhe-iam maluco. Mas Nuno Espírito Santo tem feito uma “época de luxo” pelos reds de Nottingham e recebe agora Ruben Amorim, que pegou num United em cacos a meio da época e “precisa de tempo”. Nuno enfrenta Amorim: a batalha do luxo contra a paciência.

Quem o diz é Ruben Micael, que foi companheiro de Ruben Amorim no Sp. Braga e ainda apanhou Nuno nos últimos meses da carreira do antigo guarda-redes no FC Porto.

“Cheguei em janeiro [de 2010] ao FC Porto e o Nuno cumpriu ainda seis meses no plantel, mas já se preparava para integrar a estrutura técnica do mister Jesualdo Ferreira. Via-se perfeitamente que ele um dia viria a ser treinador, já pensava muito nisso nessa altura”, explica.

Ao contrário do que pensava de Ruben Amorim. “Não estava à espera que ele viesse a ser treinador. Não que ele não tenha mostrado capacidade para o ser mas por ser mais brincalhão, muito bem-disposto. Mas ainda bem que ele conseguiu chegar a este nível, porque independentemente das brincadeiras no balneário, sempre foi um grande profissional”, esclarece.

Sobre o embate desta noite, o antigo médio de Nacional, Sp. Braga e FC Porto vê os dois ex-companheiros de equipa em cenários opostos. “O Nuno está a fazer um trabalho de luxo no Nottingham. Já fora de Inglaterra tinha mostrado competência em vários projetos e mesmo o que fez no Wolverhampton é de grande prestígio porque tornou-se um clube de Premier League quando não o era antes do Nuno chegar”, diz.

O paciente… inglês

Já Ruben Amorim tem em mãos uma tarefa “muito difícil”. “Ele precisa que o dono do Manchester United tenha palavra e lhe dê tempo. Porque vai precisar de dois anos pelo menos para reconstruir o plantel. É preciso mudar quase tudo.

Tem de aproveitar bem as janelas de mercado e, mesmo assim, no próximo ano tem de ficar nos 6, 7 primeiros”, refere, alertando para o investimento que o United tem feito nos últimos anos: “O clube tem gasto muito dinheiro e creio que o Ruben encontrou um cenário bem mais grave do que pensava.”

Quanto a Nuno Espírito Santo, esta será uma época de exceção ou servirá para consolidar o Nottingham lá em cima.

“É muito difícil. O Nuno precisa de ter estabilidade para que os resultados apareçam de forma regular. Está a fazer uma óptima época mas não podemos esquecer-nos de que o City tem feito uma temporada atípica. Na próxima época será mais duro mas, ainda assim, o Nuno tem capacidade para ir buscar reforços a baixo custo e apresentar rendimento, tal como fez no Wolves”, afirma.

Considerando o Nottingham “favorito, pelo momento da equipa”, Ruben Micael deseja sorte aos dois ex-companheiros e prevê que, caso chegue à final da Taça de Inglaterra e ganhe, “Nuno pode ter as portas abertas de um clube maior”. Apesar de em Inglaterra “a experiência falhada no Tottenham” ainda esteja na mente de muitos adeptos.

City Ground ganhou nova alma

O Nottingham Forest só perdeu dois jogos em casa para a Premier League esta época e, curiosamente, um deles foi num duelo de treinadores portugueses.

O Fulham de Marco Silva foi ao City Ground vencer por 1-0, golo de Jiménez, tendo a outra derrota caseira de Nuno sido frente ao Newcastle (1-3).

Em 2024/25, Liverpool e Arsenal não conseguiram melhor do que um empate em casa do Forest, enquanto Aston Villa, Manchester City e Tottenham saíram de lá derrotados.

Recorde-se que o Nottingham de Nuno foi ganhar a Old Trafford por 3-2 na 1ª volta – já com Amorim ao leme dos red devils – e procura vencer hoje para, de forma incrível, pressionar o Arsenal no 2º lugar, de quem está a 4 pontos.

Com o apuramento para as meias-finais da Taça de Inglaterra – algo que o clube não conseguia desde 1990/91, sob o comando da lenda Brian Clough – os adeptos já comparam Nuno Espírito Santo ao mítico treinador inglês que conquistou, entre outros títulos, um campeonato inglês e duas Taças dos Campeões Europeus com o Forest nos anos 70 e 80 do século passado.

Respirar melhor na cidade de Robin Hood

O United de Ruben Amorim chega a esta partida após duas vitórias consecutivas – Liga Europa e Premier League – e de quatro jogos consecutivos sem perder.

Ainda assim, ocupa um pobre 13º lugar na classificação e espera dar sequência àquela série antes de uma sequência difícil: receção ao Man. City e depois a eliminatória da Liga Europa frente ao Lyon de Paulo Fonseca, esta com uma deslocação ao terreno do Newscastle pelo meio.

Nos últimos sete jogos, o United não perdeu nenhum nos 90 minutos regulamentares. Apenas foi derrotado nos ‘oitavos’ da Taça de Inglaterra, frente ao Fulham de Marco Silva, mas só nos penáltis.

Respirar melhor em Nottingham é a prioridade neste momento. Esta é uma visita sempre difícil pois este Forest, tal como Robin Hood, lenda da cidade de Nottingham, é perito em roubar pontos aos ricos.