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Pedro Carvalho é campeão mundial: "Voltei a ter amor pelo MMA"

Pedro Carvalho é campeão mundial: “Voltei a ter amor pelo MMA”

Eduardo Pedrosa CostaEduardo Pedrosa Costa|

Pedro Carvalho sagrou-se, a 18 de outubro, campeão mundial de MMA, na Suíça. Ao Craques.pt falou da conquista, do amor ao desporto, da superação e do medo.

Foi há poucas semanas que Pedro Carvalho se sagrou campeão mundial de MMA (artes marciais mistas), na Suíça, na promoção Warriors Night Championship, ao derrotar Damien Lapilus, por submissão, no primeiro round. A conquista do título marcou o fim de uma série de quatro derrotas e o início do futuro da carreira do português de Guimarães.

Em entrevista exclusiva ao Craques.pt, Pedro Carvalho abordou a vitória, a reconexão com o MMA, a superação numa fase negativa da carreira e do que é sentir medo.

Como é ser campeão mundial?

Acaba por ser um bónus, porque o foco é sempre um, é sempre entrar lá para dentro, fazer o meu trabalho, fazer o meu trabalho bem feito e ganhar, neste caso, o título. O título de campeão do mundo acaba por ser um bónus muito bom, mas é isso. O foco para esta luta nunca esteve em ganhar o título, mas sim em fazer aquilo que eu queria fazer e ganhar a luta. O resto vem por acréscimo.

Uma submissão na primeira ronda. Já achavas que ia ser assim?

Eu sabia que eu tinha capacidades para acabar com o meu adversário nas duas vertentes, no chão ou em pé. A oportunidade surgiu e eu aproveitei. Estava mais inclinado para o KO, mas mal o meu adversário tentou mandar aquele pontapé e meio que se desequilibrou e caiu, eu sabia que a luta já estava com o tempo contado e aproveitei a oportunidade.

Estavas numa fase difícil com quatro derrotas seguidas…

Afastei-me um bocado do desporto e depois, claro, passando meio ano mais ou menos, aquela fome voltou naturalmente e as coisas correram num curso natural, em que não houve pressão em voltar, simplesmente as coisas aconteceram. E foi bom para mim, porque até então eu lutava muito, sentia aquela obrigação de lutar era como se fosse um trabalho, então eu tenho que picar o ponto. Foi bom para mim ter-me afastado, porque voltei a conectar-me com o amor que eu tinha ao desporto, com o amor de lutar. Sabia que ao ultrapassar aquela fase, eu iria me tornar 5, 6, 7 vezes melhor, e acho que o resultado está aqui. Uma disputa de título mundial, 2 minutos, e estamos aqui a falar.

A paixão pelo MMA como começou?

Em miúdo via um programa do UFC na Sic Radical e ao ver os lutadores a combater em pé, no chão, numa jaula, com luvas pequenas… apaixonei-me. Não sabia que existia MMA em Portugal, muito menos na minha própria cidade.

Um colega meu começou a treinar com o Rafael Silva e um dia fui com ele, pensava que era futebol e quando soube que era MMA o meu mundo parou. Tivemos essa conversa numa quarta-feira e sábado já me estava a inscrever. O resto, é história.

E foste para a Irlanda aos 20 anos.

Sim, a Carla, minha mulher, perguntou-me onde estava a melhor equipa de MMA, porque nós já pensavamos em emigrar. Eu disse-lhe que o melhor ginásio era o Straight Blast Gym, do John Kavanagh. E ela disse-me ‘a Irlanda é a duas horas daqui’ e uma coisa levou à outra.

Não foi é um começo fácil…

Principalmente para arranjar trabalho, sim. Quando consegui, foi a limpar casas de banho num hospital. Mas olho para trás com sentimento muito positivo, com uma nostalgia boa. Estas adversidades fazem um homem e eu era um miúdo à busca do sonho.

Como é feita a preparação para um combate? É complexo, não é?

É muito difícil, fisica e mentalmente. Entre 8 a 10 semanas de preparação, alta intensidade, de segunda a sábado e muitas vezes de segunda a domingo. Intercalamos entre treinos mais pesados e técnicos, para o corpo recuperar. Mas nunca dá para ter uma preparação sem uma ou outra lesão.

No topo disto, temos uma dieta restrita e que melhorar a nossa performance. E depois há a parte psicológica, que no meu caso implica estar longe da família, ter de lidar com a pressão do combate, visualizar…

E é um desporto solitário. Não perde uma equipa, perdes tu.

Sim, é a diferença para, por exemplo, o futebol. Não nos podemos dar ao luxo de ter dias maus, nem a treinar e muito menos a lutar. Com tudo o que exige para se ser um lutador, se a pessoa não gostar ou não quiser realmente, é muito difícil de seguir uma carreira, é muito desgastante e implica muito sacrifício.

Como te sentes minutos antes de um combate? Como é o nervosismo?

Quando te batem à porta do balneário e estás atrás do palco à espera para entrar, são os momentos mais complicados. Depois de nos chamarem, à medida que nos vamos aproximando da jaula, o barulho, que é intenso ao início, vai-se dissipanado. Quando entras na jaula e estás tu e o teu adversário, parece que há um silêncio.

Alguma vez sentes medo?

O sentimento é medo, mas não é medo do adversário, é medo de falhar, do que pode ou não pode acontecer, aqueles momentos inesperados. Há medo de se acontece algo que não podes controlar.

Qual é a sensação de levar um murro em cheio?

Nada. É difícil descrever mas é nada. Quando estás preparado e fazes disto vida, é como se estivesses a jogar. O nosso corpo e a nossa mente está preparada para isso, para o dano.

Então quando sofremos dano não pensamos na dor, mas sim no que temos de fazer para evitar isto. É um jogo, quase como xadrez.

Como te sentes após uma vitória?

Tudo na vida, principalmente naquela primeira semana de competição, é incrível. As primeiras vezes que volto a levar os meus filhos à escola, as comidas que eu gosto, estar com os amigos e família, é tudo melhor. Dás mais valor à vida.

Se falasses com o Pedro de 20 anos, o que lhe dizias?

Agradecia-lhe porque foi esse Pedro que me ajudou a sair do fundo neste meio ano que me afastei do desporto. Foi ele que me ajudou a sair com uma vontade ainda maior. Às vezes vou ver os meus combates antigos e só sinto orgulho por aquilo que fiz.

Atualmente sou um lutador 30 vezes melhor e se calhar estamos aqui a falar depois deste título mundial e foi por causa do Pedro de 20 anos que me fez ver que consigo muito mais e melhor do que na altura.

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