CRAQUES – Olhemos para os primórdios do Sindicato há 23 anos, quando “andavam com a casa às costas”, como disse o José Carlos, e procuravam cedência de campos junto da Federação, e o percurso feito até às atuais instalações em Odivelas. Qual foi o momento ou decisão mais marcante nesta transformação?
JOAQUIM EVANGELISTA – De facto, desde a nossa fundação em 1972, o Estágio do Jogador, que nasceu em 2001, ainda no mandato presidido por António Carraça, é uma das iniciativas mais relevantes, porque cumpre uma missão que é simultaneamente de apoio à empregabilidade dos jogadores e de assistência social. Felizmente, temos contribuído positivamente para transformar muitas vidas. O caminho foi sendo feito com coragem e trabalho da nossa equipa e o sucesso deve-se a todos.
Olhando para trás, são muitas as histórias com a casa às costas e dedicação diária do Zé Carlos, do Rebelo, do Franque e de muitos treinadores que nos ajudaram nesta missão, procurando apoios para a cedência de campos e instalações com dignidade para receber futebolistas profissionais. O Campus do Jogador foi um projeto que traçámos a longo prazo, e felizmente a gestão financeira responsável que fizemos permitiu alcançar esse objetivo e criar uma infraestrutura própria, a casa de todos os futebolistas em Portugal, capaz de proporcionar as melhores condições para quem precisa do nosso apoio.
C – E que papel teve pessoalmente nesta evolução?
JE – Pessoalmente, só posso sentir-me orgulhoso por liderar as equipas que tornaram isto possível. Somos um caso único no contexto dos mais de 60 países que integram a FIFPRO.
C – Ao longo destes anos de estágios, quais considera serem os casos de maior sucesso? Há jogadores que passaram pelo Sindicato e que hoje são referências no futebol português? Como medem o verdadeiro impacto destes projetos na carreira dos atletas?
JE – O Estágio não se mede só pelos casos de sucesso desportivo. Mede-se, por exemplo, pelos participantes que não estudavam e começaram a fazê-lo depois de estarem connosco. Ou que começaram a demonstrar interesse por outros projetos, no caminho para a transição de carreira. Claro que temos histórias verdadeiramente inspiradoras, como a do Miguel Garcia que depois de ter estado connosco, após um momento menos bom na carreira e a recuperar de lesão, foi recrutado pelo Olhanense e, na mesma época, deu o salto para o SC Braga, onde integraria a equipa que jogou a final da Liga Europa.
Temos também vários casos de jogadores que, fruto da boa preparação feita no Estágio, conseguiram fazer um excelente contrato, em Portugal ou no estrangeiro. Outros tornaram-se treinadores e vieram ao Estágio para crescer, mas, sobretudo, retribuir o que o futebol lhes deu e ajudar colegas de profissão, como o Nandinho, o Pedro Martins, o Silas ou, nesta edição, o Zé Pedro. São todos exemplos de que esta iniciativa é especial, mede-se por resultados na taxa de colocação, mas também, reforço, pela diferença que conseguimos fazer na vida das pessoas. Lembro-me do quão difícil foi para o Carlos Fernandes aceitar o fim de carreira, lidando inclusivamente com questões de saúde mental. Estivemos sempre ao lado dele e hoje temos homem, treinador de guarda-redes e empreendedor. Os indicadores de sucesso nunca serão apenas números.
C – O José Carlos revelou-nos que “a par de Espanha, não há outro Sindicato com futebol feminino”. O que vos levou a dar este passo histórico com o primeiro Estágio da Jogadora? Foi uma decisão estratégica planeada ou surgiu de uma necessidade específica que identificaram?
JE – É verdade, embora outros sindicatos como França ou Inglaterra já tenham testado o apoio às jogadoras em ‘off season’, apenas os nossos companheiros da AFE em Espanha tinham até aqui um verdadeiro estágio focado na empregabilidade, à semelhança do que acontece para o masculino. Durante algum tempo, entendemos que o número reduzido de praticantes e a necessidade quase absoluta de recrutamento das mesmas pelos clubes, tornava desnecessária uma iniciativa para promover a procura ativa de clube.
Com o aumento do número de praticantes, mas também pela sensibilidade recolhida no terreno pela nossa equipa do futebol feminino, liderada pela Carla Couto, apoiada pela Micaela Matos no Norte e a Matilde Fidalgo, percebemos que fazia sentido lançar o projeto. Até porque não é só a componente desportiva que o Estágio acrescenta, a formação integral e a sensibilização para a importância de ter um plano B no futebol é transversal e muito importante para que o futebol feminino não passe pelos mesmos flagelos na transição de carreira. Sem dúvida que tomámos a decisão certa e estou muito orgulhoso daquilo que fizemos até aqui.
C – Tanto a treinadora Isabel Osório como vários participantes sugeriram que os estágios deveriam começar mais cedo, e alguns jogadores propuseram até estágios diferenciados por patamares (a nível de divisões onde jogam). Que ajustes estão a planear para as próximas edições? O Estágio da Jogadora vai continuar e expandir-se?
JE – A calendarização desta 1ª Edição foi um desafio por vários motivos. Por um lado não sabíamos de antemão se teríamos adesão e, por outro, o próprio calendário competitivo entre os diferentes escalões levantava dúvidas sobre o momento ideal para integrar jogadoras, após as suas férias. Iremos fazer esse balanço e refletir sobre o que podemos melhorar na próxima edição, mas acredito que o Estágio Feminino pode, de facto, cumprir uma dupla missão. A de dar condições de trabalho e preparação às jogadoras de elite, muito na lógica do que fazemos para o masculino, mas ao mesmo tempo promover a prática desportiva no feminino, fazer captações para alargar a base de praticantes e criar oportunidades para mulheres, muitas delas jovens, que ambicionam atingir esse patamar. Enquanto Sindicato queremos ser úteis à classe que representamos, as profissionais de futebol, mas também ao desenvolvimento do futebol português, que como sabemos, em especial no futebol feminino, precisa de mais praticantes.
C – Para além da componente desportiva, o Sindicato tem uma forte vertente social e educacional, com cursos de podologia, saúde mental, literacia financeira, línguas… Como vê esta dupla missão? É possível ser simultaneamente um sindicato de proteção laboral e uma instituição de formação integral?
JE – Não só é possível como é indispensável ter uma visão 360º dos problemas que afetam os jogadores, por estarem muitas vezes interligados com o sucesso ou insucesso na esfera laboral. Neste curto período em que os jogadores passam connosco queremos, pelo menos, sensibilizá-los para questões absolutamente essenciais no seu desenvolvimento enquanto pessoas e atletas, e felizmente o follow up que temos tido é excelente.
O tempo em que os jogadores eram vistos apenas como um instrumento dos clubes e que não podiam fazer mais nada durante a carreira além de jogar à bola acabou. Cada vez mais, têm consciência de que sem a educação, o empreendedorismo e o investimento neles próprios não conseguirão ter sucesso. E são muitas as famílias que já incutem esses valores desde a formação. Estou certo de que este trabalho do Sindicato e de outras instituições do futebol português na formação integral dos atletas colherá frutos, especialmente nas próximas gerações de dirigentes.
Esperamos que melhorem os mecanismos de licenciamento e controlo salarial. De forma a evitar mais casos de falências e queda de clubes históricos. E é necessário um maior escrutínio dos investidores no futebol português, nacionais e estrangeiros.
C – O Nuno Pina confessou-nos que “muitos jogadores têm preconceito de vir ao Sindicato” e que já ouviu dizer que “é só para largados”. Como combate estes preconceitos? E quais são os maiores desafios que enfrenta atualmente na gestão do Sindicato?
JE – Acredito que esse estigma se tem vindo a esbater, até pelas várias vertentes que oferecemos nesta iniciativa. Há jogadores que estão a treinar sozinhos ou no ginásio, quando têm disponível um espaço com condições profissionais e acompanhamento por uma equipa técnica altamente qualificada, à semelhança do trabalho que fazem nos clubes. É uma escolha que respeitamos. Isso não pode demover-nos de continuar a trabalhar e apoiar quem precisa da nossa ajuda. A quantidade de chamadas de agentes e clubes, em Portugal e no estrangeiro, que vamos recebendo é demonstrativa de que o estigma só está mesmo na cabeça das pessoas. Porque, como se costuma dizer, quem não aparece é esquecido. Num setor cada vez mais competitivo e profissionalizado, mesmo nas divisões inferiores os detalhes fazem a diferença, é preciso qualidade física, técnico-tática e muita resiliência mental para ser bem-sucedido. No Estágio do Jogador procuramos dar todas estas ferramentas.
C – Olhando para o futuro, qual é a sua grande ambição para o Sindicato dos Jogadores? Há novos projetos em mente? E como vê a evolução do futebol português nos próximos anos – que papel quer que o Sindicato desempenhe nessa transformação?
JE – Tenho vários projetos e ambições por concretizar no apoio aos jogadores e no desenvolvimento do futebol português. Melhorar condições laborais e combater a precariedade, desde logo com a aprovação do primeiro Acordo Coletivo de Trabalho para o futebol feminino. Contribuir para a solidariedade intergeracional, apoiando os ex-jogadores e contribuindo para um envelhecimento saudável.
Temos um projeto estrutural nesta área para lançar brevemente. Queremos melhorar a proteção social dos futebolistas através do Fundo de Pensões e da recuperação das garantias do estatuto legal de profissão de desgaste rápido. O SIndicato pretende ser um vetor de apoio à transição de carreira e empreendedorismo, sensibilizando o setor do desporto e o mercado de trabalho, em geral, para as mais valias na contratação de atletas. São precisos mais programas de incentivos.
Queremos ainda reforçar a lusofonia, criar mecanismos de cooperação e reforçar o talento português no mundo. Quanto ao futebol português em si mesmo, o processo de centralização dos direitos televisivos promete impactar toda a indústria e enquanto representantes dos jogadores acompanharemos essa “revolução” que é esperada. Esperamos que melhorem os mecanismos de licenciamento e controlo salarial. De forma a evitar mais casos de falências e queda de clubes históricos. E é necessário um maior escrutínio dos investidores no futebol português, nacionais e estrangeiros. Quer ao nível da idoneidade e conflitos de interesses, quer ao nível das garantias financeiras que prestam para a sustentabilidade dos clubes. O Sindicato trabalhará sempre em prol do diálogo social e da concertação, sem deixar de defender, intransigentemente, os interesses da classe que representa.
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