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O génio de Trincão

O génio de Trincão

O génio de Trincão

Nuno FarinhaNuno Farinha|

Há jogadores exuberantes, por natureza, que facilmente se transformam em heróis da bancada mesmo sem rendimento ou números por aí além. Tem a ver com a forma como se relacionam com o ‘ecossistema’ do futebol, com um estilo mais vistoso, com um certo ‘jeito’ para lidar com as câmaras, com o próprio ‘espetáculo’ fora das quatro linhas e, no fundo, com tudo aquilo que vai para além do que verdadeiramente interessa: o que acontece dentro das quatro linhas.

Um jogador mais introvertido (tímido, até), mais contido nas emoções e menos disponível para ser ‘ator’ no universo tantas vezes ‘cinematográfico’ do futebol, esse, está quase sempre em desvantagem perante um colega de profissão mais ‘soltinho’, como diria o Cândido Costa.

Mas, como em tudo na vida, a verdade acaba sempre por vir ao de cima. E nada em futebol substitui a qualidade, a força dos números e a realidade dos factos. Vem isto a propósito de Francisco Trincão – que, muito provavelmente, é hoje o melhor jogador a atuar em Portugal. No mínimo, será o melhor jogador português da nossa Liga e o mais influente da equipa que é bicampeã nacional.

Um exemplo de como, por vezes, as ações de um jogador podem desequilibrar um jogo (decisivo!) e, mesmo assim, poucas pessoas repararem no que foi feito: a última final da Taça de Portugal, entre o Sporting e o Benfica, no Estádio Nacional.

Ao minuto 90+9 (último lance do tempo extra), o Benfica vencia por 1-0, tinha o jogo controlado e parecia, até, já ter uma mão na Taça. O que aconteceu, então? Com o Sporting coletivamente bloqueado, desinspirado e sem soluções, Trincão pegou na bola, tirou dois adversários do caminho e encontrou o que ninguém estava a conseguir fazer: um espaço que permitiu a Gyokeres explorar a sua poderosa profundidade e, dessa forma, ‘sacar’ um penálti que valeu, em cima da hora, o penálti que levaria o jogo para prolongamento.

Viu-se, então, o próprio presidente do Benfica, Rui Costa, a explicar a Luís Montenegro o que deveria ter sido feito naquele lance para os ‘encarnados’ garantirem’ a vitória, que estava tão perto. Com um gesto claro para o primeiro-ministro, Rui Costa dizia que ‘bastava’ ter parado Trincão com uma falta.

O jogo foi então para prolongamento e aí, sim, já com o Sporting por cima, a reviravolta acabou por ser consumada com naturalidade. O 2-1 acontece por Harder, após um cruzamento milimétrico de… Trincão. E perto dos 120 minutos, o mesmo Trincão assinou um lance de génio, que fez passar a bola por baixo das pernas de António Silva antes de rematar para o 3-1.

Ironia surprema: no banco do Benfica estava o treinador Bruno Lage, que havia orientado Trincão, no Wolverhampton, e que – em toda essa temporada (2021/22) – permitiu por uma única vez (!) que o esquerdino cumprisse um jogo do início ao fim!

Ou seja, Trincão esteve nos três golos que valeram a Taça de Portugal, mas nas horas seguintes – nas televisões, nas rádios e nos jornais – o grande destaque ia para dois outros jogadores: Gyokeres e Harder.

Duas semanas antes dessa final da Taça, o Sporting jogava na Luz os 90 minutos que iriam decidir (e decidiram, de certa forma) o campeonato nacional. O Benfica, a jogar na Luz, precisava ‘apenas’ de vencer para chegar à última jornada em 1.º lugar. Enquanto ao Sporting bastava um empate para, depois, tentar carimbar o bicampeonato em Alvalade, na última jornada, diante do Vitória de Guimarães.

Naquela que foi praticamente a sua primeira ação no jogo, Trincão recebeu um passe de Gyokeres e abriu o ativo. O jogo terminaria empatado a um golo – resultado que acabou por estender a passadeira do título aos leões. E que, também ironicamente, acabou por ser um primeiro empurrão (quiçá decisivo) para o despedimento de Bruno Lage no início desta época… É a vida.

Isto quer dizer, de forma clara, que Trincão foi decisivo na dobradinha do Sporting. Mas, seja por uma questão de estilo (discriçaõ), seja por outros interesses mais difíceis de controlar (e que estão relacionados, quase sempre, com questões de mercado), a verdade é que os principais protagonistas da festa verde-e-branca foram quase sempre outros.

Felizmente para Trincão – mas, sobretudo, por uma questão de justiça – a consistência do rendimento e do trabalho têm vindo a colocar as coisas no seu devido sítio. Trincão é hoje, sem surpresa, um dos jogadores mais idolatrados pela massa adepta do Sporting, conquistou com inteiro mérito o seu espaço na Seleção e até já tem o selecionador nacional, Roberto Martínez, a classificá-lo como “um dos melhores da Europa”.

O futebol como um espelho da vida: a justiça até pode tardar, mas (quase) nunca falha.

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