Vinte anos depois do abismo financeiro ter abatido o histórico Salgueiros, o clube portuense ressurge com a ambição de regressar aos palcos que outrora marcaram a sua história. Esta época a equipa luta com determinação pela subida à Liga 3, provando que a chama do passado pode reacender-se.

Foi em 2004 que tudo desabou. O fim do futebol sénior do Sport Comércio e Salgueiros foi anunciado na sequência de uma crise financeira incomportável. Nesse ano, o histórico emblema de Paranhos militava na Liga de Honra (segunda divisão nacional), conseguiu mesmo finalizar a época 2003/04 em sexto lugar, mas acabaria relegado para a II Divisão B devido a incumprimentos financeiros diversos.

A descida originou, então, a saída não só do treinador, Norton de Matos, como também de todo o plantel que estava montado. Incapaz de inscrever jogadores, a Direção teve de colocar os juniores à disposição do plantel sénior, terminando a época no 20.º e último lugar da classificação. Somou apenas cinco pontos na época 2004/05.

Seguiram-se vários anos sem alegrias no Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro. Até que, em 2008, os portuenses voltaram, então, a atuar, agora no Complexo Desportivo da Campanhã. E com o nome de ‘Salgueiros 08’, voltando à vida desde a última divisão da AF Porto.

Desde o 104.º aniversário, em 2015, altura em a Direção salgueirista anunciou a aquisição do ‘verdadeiro’ nome, símbolo, bandeira e história, a situação voltou a normalizar-se… à exceção do regresso aos grandes palcos.

Atualmente, o Salgueiros está no Campeonato de Portugal, a lutar pelo acesso à Liga 3 – divisão que já estive perto de alcançar em 2021/22 e 2022/23. Na sua equipa conta com o veterano Diogo Valente que, aos 40 anos, soma 8 golos e 7 assistências em 24 jogos esta época.

O sonho de três jovens à luz do candeeiro

Jorginho, “Joaninha” e Medina foram os três jovens que criaram, então, o Sport Grupo e Salgueiros, em 1911, debaixo do candeeiro 1047 da Rua da Constituição, no Porto, com vista a ser uma coletividade futebolística.

O nome foi, então, alterado em 1916/17. Por quererem honrar a cidade, passaram a ser o Sport Porto e Salgueiros. Assim foram campeões do Porto (1917/18), considerado o melhor torneio de Portugal na época – lado a lado com o Campeonato de Lisboa.

A denominação do clube voltaria a mudar depois de uma profunda crise e, em 1920, deu-se a união com o Sport Clube Comércio. O novo nome ficou até à atualidade – Sport Comércio e Salgueiros.

Durante muitos anos, o Salgueiros foi o segundo melhor clube da Cidade Invicta. Com mais sócios que o Boavista.

Primeiros passos a nível nacional

O Campeonato de Portugal foi, então, o primeiro torneio “além-Porto” em que o Salgueiros participou. Das nove participações nesta liga, destaca-se a época 1927/28. Nesse ano, os salgueiristas chegaram aos quartos-de-final da prova, depois de terem eliminado o FC Porto (2-1).

Mais tarde, em 1943/44, o Salgueiros estreou-se, então, na Primeira Divisão e seguiram-se alguns anos entre subidas e descidas, até ao princípio de consolidação no principal escalão a partir de 1982/83.

O Salgueiros está ainda no lote de equipas com mais participações na primeira divisão (24), mas a última participação na primeira divisão já foi em 2001/02. Os adeptos do futebol nacional ainda hoje recordam a “Alma Salgueirista”, a fervorosa claque do clube.

Quando Zidane defrontou o Salgueiros

Foi em 1990/91 que os salgueiristas viram a sua equipa obter a melhor classificação de sempre. O quinto lugar daquele ano, alcançado pelos comandados de Zoran Filipović, ainda hoje é lembrado, por ter dado o único acesso dos portuenses à Taça UEFA (atual Liga Europa).

Embora tenha sido uma passagem curta, a 1.ª eliminatória, frente ao Cannes, ficou eternizada por ter sido a estreia europeia do Salgueiros.

A primeira mão, no Estádio do Bessa, correu de feição. O primeiro de dois jogos terminou com a vitória por 1-0. O golaço à meia-volta do internacional português Jorge Plácido deu para sonhar com a passagem à próxima ronda, em território francês.

O resultado repetiu-se no sul de França, após a expulsão de Pedrosa aos 57′ e do golo gaulês aos 85′. A eliminatória decidiu-se, depois, nas grandes penalidades. Onde o Cannes acabou por vencer 4-2.

Na equipa francesa constava um jovem gaulês, de 19 anos, chamado Zinédine Zidane. Foi o primeiro clube sénior de Zizou.